Discuti com a minha mãe na véspera de Natal. Subi para o quarto ainda não eram seis da tarde, tranquei a porta, abri a cama de baixo, deitei-me, adormeci e deixei-me ficar assim até que fosse de noite. Juntou-se cá alguma família nossa, e eu do quarto ouvia risadas, o som alto da televisão e o meu irmão a chorar de vez em quando.
Não desci para jantar, aliás, não jantei nessa noite. Estava a morrer de tédio no quarto, o Natal sempre foi uma noite importante para mim e para todos cá em casa e eu sem falar com ninguém, não houve nenhuma alma caridosa que subisse ao meu quarto a perguntar se estava bem ou se precisava de alguma coisa. Olhava ao relógio uma vez por outra e via as horas passarem, inclusive a meia noite que passei ali, no mesmo sitio, sozinha, às escuras no quarto, sem televisão, sem nada. Só eu e o escuro, ninguém se importou com a minha ausência. Espero que a vossa noite de longe melhor que a minha.